SAF ou Clube: qual o caminho para o futuro do futebol?

Conteúdo | 30/01/2025

Futemais, como o nome já diz, é um portal voltado para explorar todos os aspectos do futebol, indo muito além das quatro linhas. Em poucas palavras, aqui a máxima de que o futebol é muito mais do que um jogo é levada ao pé da letra. Nesse sentido, nossa equipe entende que o futebol é um fenômeno social que molda identidades, conecta pessoas e reflete as lutas e esperanças de nações inteiras.

Hoje, abordaremos a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e como ela contrasta com a ideia de clube como agremiação comunitária e coletiva, destacando por que o futebol não pode ser tratado como uma empresa.

O que é SAF e como funciona?

A SAF é um modelo jurídico criado no Brasil para permitir que clubes de futebol se transformem em empresas, separando, a grosso modo, o departamento de futebol da administração geral do clube. Em suma, essa estrutura facilita o investimento, permitindo que empresas ou investidores adquiram participações no clube para gerir o futebol como um negócio.

Por outro lado, o modelo tradicional de clube é caracterizado por ser uma associação sem fins lucrativos, onde os torcedores, como sócios, em vias de regras, têm direito à participação em decisões importantes, como eleições de presidentes e diretores. Esses clubes se organizam como federações esportivas, que agrupam várias modalidades esportivas, mantendo uma forte ligação com as comunidades que os rodeiam.

Futebol: um fenômeno social e cultural

O futebol nasceu como uma prática coletiva e comunitária, rapidamente se tornou um espaço onde trabalhadores, sobretudo na Inglaterra do século XIX, encontravam lazer e organização social em meio às adversidades do capitalismo industrial.

Exemplo disso foi o surgimento de clubes como o Manchester United, originalmente fundado por trabalhadores ferroviários, e o Arsenal, criado por operários de uma fábrica de armamentos. Esses clubes não apenas representavam um local para a prática esportiva, mas também se tornaram centros de identidade coletiva e resistência cultural. Através das partidas, esses grupos de trabalhadores não apenas extravasavam as tensões diárias, mas também construíam laços identitários que deram origem a clubes comunitários.

Nos países latino-americanos, o futebol ganhou um caráter ainda mais marcante como expressão de identidade nacional e popular. Eventos históricos, como a dramática derrota do Brasil na Copa de 1950, que marcou uma geração inteira, e a ascensão do futebol argentino, especialmente com Diego Maradona na década de 1980, ilustram como o esporte é profundamente conectado à formação de identidade e à cultura popular na região.

Clubes como Flamengo, São Paulo, Boca Juniors e Nacional, ao longo da história, tornaram-se muito mais do que instituições esportivas, com destaques em competições mundiais: são parte da cultura popular, agregando torcedores de todas as classes sociais em torno de paixão e pertencimento. Isso contrasta com a visão reducionista de clubes como meras empresas ou CNPJs.

A crise identitária do futebol brasileiro

Atualmente, observa-se uma insatisfação crescente com a seleção brasileira e com muitos clubes que parecem distantes de suas torcidas. Essa crise não é apenas técnica, é também cultural. No passado, vestir a "amarelinha" era um sonho que transcendia o esporte. Hoje, é comum ouvir críticas sobre a falta de comprometimento e de conexão dos jogadores com as torcidas e suas comunidades de origem.

A atomização do indivíduo — característica do neoliberalismo — penetrou no futebol, transformando jogadores em "produtos" de mercado e clubes em "marcas", desconectando o esporte de sua base social. Quando o foco se desloca exclusivamente para o lucro, perdem-se valores como pertencimento, identidade e o impacto social do futebol.

SAF ou clube: o que é melhor?

A criação da SAF tem sido defendida como solução para os problemas financeiros de muitos clubes. Clubes como o Cruzeiro e o Botafogo, por exemplo, adotaram o modelo SAF em busca de sustentabilidade financeira. Enquanto o Cruzeiro conseguiu maior estabilidade e voltou a planejar investimentos no futebol, o Botafogo atraiu investidores estrangeiros que trouxeram visibilidade e novos recursos.

No entanto, esses exemplos também mostram desafios: as expectativas dos torcedores muitas vezes não se alinham aos resultados imediatos e há o risco de perda de identidade cultural dos clubes. No entanto, essa estrutura também levanta preocupações. Ao transferir o controle para investidores, corre-se o risco de os interesses financeiros prevalecerem sobre os valores históricos e culturais do clube.

Por outro lado, o modelo de associação oferece um formato que deveria, pelo menos no papel, ser mais democrático, e, portanto, enfrenta desafios como má gestão e falta de transparência. A questão é: é possível preservar a essência dos clubes em um contexto de profissionalização e globalização do futebol?

Uma solução voltada para as torcidas

Em vez de transformar clubes em empresas, é fundamental investir na aproximação das torcidas com suas agremiações. Formas inovadoras de engajamento, como o uso de plataformas digitais para consultas de torcedores, programas de fidelidade que oferecem benefícios exclusivos, ou mesmo aplicativos que permitem aos torcedores acompanhar e influenciar as decisões do clube, podem criar uma relação mais sólida e participativa entre os clubes e suas comunidades. Isso inclui:

  1. Facilidade para se associar: Reduzir custos e burocracias para que torcedores possam participar ativamente das decisões do clube.
  2. Transparência: Garantir que os torcedores tenham acesso a informações sobre gestão e finanças.
  3. Educação esportiva: Promover programas para formar jogadores que compreendam o significado histórico e cultural de representar seus clubes e a seleção.
  4. Inclusão social: Utilizar os clubes como espaços para projetos sociais, fortalecendo o laço com suas comunidades.

O futebol é um reflexo da sociedade em que vivemos. Tratar clubes como meras empresas é ignorar seu papel histórico como espaços de resistência e organização popular.

O caminho para recuperar a identidade do futebol brasileiro passa por reforçar os laços entre clubes e suas torcidas, promovendo uma gestão inclusiva, transparente e conectada às bases que sustentam o esporte. Para isso, é essencial implementar medidas concretas como a criação de conselhos consultivos formados por torcedores, a ampliação do acesso a eleições internas por meio de plataformas digitais, e a organização de eventos comunitários para fortalecer a participação local. Essas iniciativas podem fomentar um ambiente de colaboração e corresponsabilidade, garantindo que as decisões estratégicas reflitam o verdadeiro espírito do futebol.

O Futemais acredita na força do futebol como transformação social e segue acompanhando de perto essas mudanças. Acompanhe nosso portal para mais reflexões e conteúdos exclusivos sobre o esporte mais amado do mundo.

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