O que é SAF e como funciona?

Conteúdo | 17/09/2024

A Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é um modelo empresarial criado pela Lei nº 14.193 de 2021 para permitir que clubes de futebol no Brasil se tornem empresas, em vez de associações sem fins lucrativos. O principal objetivo desse modelo é profissionalizar a gestão dos clubes, possibilitando uma administração mais eficiente e transparente. A SAF é regulamentada e fiscalizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), garantindo a segurança dos investidores e o cumprimento das normas de governança.

Um dos pontos centrais da SAF é a forma como ela permite a renegociação de dívidas. Os clubes que adotam esse modelo devem pagar suas dívidas em até 10 anos, sendo que, por lei, 70% das dívidas trabalhistas e cíveis devem ser quitadas nos primeiros seis anos. Isso oferece uma maneira mais organizada de lidar com o passivo financeiro, além de abrir a possibilidade de entrada de capital externo por meio da venda de ações.

A diferença fundamental entre a SAF e as associações tradicionais é que, ao se tornar uma empresa, o clube passa a ter investidores que podem adquirir ações e influenciar nas decisões administrativas. Além disso, as regras de governança mais rígidas impõem maior controle sobre a gestão financeira e operacional, tornando o clube mais atrativo para aportes de capital.

Como um clube vira SAF?

O processo de transformação de um clube em SAF envolve a criação de uma nova empresa, com um CNPJ separado da associação original. Para que essa mudança ocorra, é necessária a aprovação do conselho deliberativo e dos sócios do clube, que votam pela alteração no modelo de gestão. Após a aprovação, o clube cria a empresa e pode vender parte das suas ações para investidores.

Os recursos provenientes dessa venda de ações geralmente são utilizados para quitar dívidas, melhorar a infraestrutura e investir na equipe. Um exemplo desse processo pode ser visto no Atlético-MG, que, ao vender 75% de suas ações ao grupo Galo Holding, recebeu um aporte inicial de R$ 600 milhões e passou a contar com a ajuda de seus novos acionistas para reestruturar o clube e lidar com as dívidas.

Outro exemplo é o Cruzeiro, que se tornou o primeiro clube a adotar o modelo SAF no Brasil. O ex-jogador Ronaldo Nazário adquiriu 90% das ações do clube, e esse capital foi direcionado para a reestruturação financeira e melhoria da administração do time. Mais tarde, porém, em abril de 2024, o Fenômeno vendeu as ações do Cruzeiro para o empresário Pedro Lourenço, que também é dono da rede Supermercados BH.

Quais times são SAF no Brasil?

Diversos clubes no Brasil já adotaram o modelo SAF. Entre os principais, estão:

  • Atlético-MG – Galo Holding (75%)
  • Bahia – City Football Group (90%)
  • Botafogo – John Textor (90%)
  • Cruzeiro – Ronaldo Fenômeno (90%)
  • Cuiabá – Família Dresch (100%)
  • Fortaleza – Próprio clube é dono de 100% das ações
  • Vasco da Gama – 777 Partners (70%)
  • Red Bull Bragantino – Red Bull (clube-empresa)

Qual foi a SAF mais cara do Brasil?

A SAF mais valiosa no Brasil até o momento foi a do Botafogo. O clube carioca foi vendido para John Textor, que, por meio da Eagle Football Holdings, adquiriu 90% das ações por um valor total de R$ 1,4 bilhão. Esse montante incluiu o pagamento de dívidas do clube, que somavam R$ 1 bilhão, além de investimentos em infraestrutura, como a construção de centros de treinamento. O valor pago por Textor representa o maior negócio envolvendo uma SAF no país até hoje.

Além do investimento financeiro, o acordo com o Botafogo inclui a modernização de instalações do clube e a melhoria do estádio Nilton Santos. Esses pontos foram determinantes para o valor elevado da aquisição e para o compromisso de longo prazo assumido pelo investidor americano.

Quem é o dono da SAF?

Os clubes que adotaram o modelo SAF têm seus acionistas como controladores das decisões administrativas e financeiras. Ao se tornar uma SAF, o clube abre suas ações para investidores, que podem adquirir uma porcentagem da empresa e se tornarem donos do clube de fato.

A participação majoritária desses investidores garante o controle das decisões estratégicas e operacionais dos clubes. No Vasco da Gama, por exemplo, o fundo de investimentos 777 Partners controla 70% do clube, enquanto os 30% restantes continuam sob a gestão da associação.

Qual a vantagem de ser SAF?

A adoção do modelo SAF traz diversas vantagens para os clubes de futebol no Brasil. Entre os principais benefícios, destacam-se:

1. Atração de Investimentos: Com a profissionalização da gestão e a separação das atividades financeiras e esportivas, os clubes SAF se tornam mais atraentes para investidores nacionais e internacionais. O Vasco da Gama, por exemplo, fechou um acordo com o grupo 777 Partners, que se comprometeu a investir até R$ 700 milhões no clube.

2. Gestão Profissional: A SAF impõe uma governança mais rigorosa e controlada, com normas de transparência que garantem uma administração mais eficiente e organizada. Clubes como o Atlético-MG e o Botafogo se beneficiaram dessa estrutura, permitindo um melhor planejamento financeiro e operacional.

3. Saneamento de Dívidas: Uma das maiores vantagens da SAF é a possibilidade de equacionar as dívidas dos clubes. Ao vender parte de suas ações, os clubes conseguem recursos para pagar dívidas antigas e estabilizar suas finanças. O Atlético-MG, por exemplo, negociou todas as suas dívidas ao se tornar SAF, transferindo a responsabilidade ao grupo Galo Holding.

4. Competitividade: Com mais recursos e uma administração profissional, os clubes que adotaram o modelo SAF tendem a se tornar mais competitivos no cenário nacional e internacional. Isso se reflete em melhores contratações, desenvolvimento das categorias de base e investimentos em infraestrutura.

5. Autonomia Controlada: Clubes como o Fortaleza mantêm 100% do controle de suas ações, garantindo autonomia na gestão. Esse modelo permite que o clube continue a tomar suas decisões de forma independente, sem a necessidade de vender o controle majoritário a investidores externos.

Qual o "perigo" de ser SAF? 

Quando um clube se torna SAF, é natural que o coração dos torcedores fique dividido. De um lado, há quem comemore a resolução das dívidas e o aporte financeiro promissor no horizonte. A perspectiva de ver o time contratando jogadores de ponta novamente, além de investimentos em centros de treinamento e recuperação, reacende a esperança de títulos ou, pelo menos, boas campanhas.

Por outro lado, todos sabem que "não existe almoço grátis". Empresários podem estar interessados em adquirir ações do clube apenas por enxergarem uma oportunidade de lucro. Afinal, a paixão que move o futebol também é uma máquina de fazer dinheiro. Isso levanta a dúvida: o grupo que está assumindo a SAF está realmente focado em tornar o time mais competitivo, ou bastam temporadas medianas que garantam a receita com bilheteria, merchandising, janelas de transferência e direitos de transmissão?

O Futuro das SAFs no Brasil

O modelo SAF já transformou o futebol brasileiro e promete continuar impactando o esporte no país. Clubes como Athletico-PR, Atlético-GO, Juventude e Vitória estão em fase de planejamento para também se tornarem SAF, buscando parcerias com investidores para fortalecer sua gestão e infraestrutura.

De acordo com o Estadão, o Athletico-PR espera vender até 51% de suas ações para um investidor brasileiro, com uma avaliação do clube de até R$ 2,5 bilhões. Outros clubes, como o Juventude, estão se estruturando para encontrar propostas que atendam suas expectativas financeiras e administrativas.

O modelo SAF se consolida como uma alternativa viável para a sustentabilidade financeira e esportiva dos clubes brasileiros, permitindo que eles enfrentem os desafios do futebol moderno com maior profissionalismo e organização.

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